segunda-feira, 18 de julho de 2011

A lição sabemos de cor


Nossa cidade é um conjunto de coisas e todas essas coisas se relacionam. Existe equilíbrio em alguns pontos e desequilíbrio em outros. A cidade é parte do município que também tem a sua zona rural e está dentro de uma bacia hidrográfica, que é a região servida pelos rios e córregos. Tudo isso faz parte de um ecossistema.

No Brasil essa causa sempre rendeu seminários, teses de mestrado, passeatas estudantis, engajamento de ONG’s e até um partido político.
Ubá também tem seminários, ONG ecologicamente correta e até representante político do Partido Verde. Tem até o “Dia da Manga Ubá”. Só não tem o dia do lixo urbano, o dia da despoluição sonora e principalmente, o dia da cidadania, que deveria ter um dia todo dia.

Olhando em volta, respirando fundo, ninguém seria capaz de achar que estamos bem. Todos gostaríamos que a paisagem fosse limpa e equilibrada, mas na verdade convivemos com uma degradação ambiental avassaladora, contínua, cruel, que transforma todos nós em agentes dessa destruição. Crescimento desordenado, ocupação das encostas, destruição dos mananciais, córregos transformados em escoadouro de esgoto “in natura”, trânsito ruim, caminhões e suas toneladas nas ruelas de bairros e do centro, carga e descarga sem regras ou horários e outros transtornos urbanos.

Desde a Miragaia, o Rio Ubá peleja e luta para continuar vivo, ou quase isso. Paradoxalmente, o que mantém seu movimento lento, grosso, com estranhas cores e cheiros, é o que o mata: o esgoto, bombeado através de aproximadas 30.000 válvulas de descarga doméstica. A cada descarga, algo próximo a 10 litros de água é despejado no rio, levando junto toda sorte de dejetos. Imagine uma média de 10 descargas/dia por válvula. Seriam três milhões de litros de água injetados diretamente no rio. Esse volume é que mantém o rio seguindo seu leito, do contrário, ele se transformaria numa poça escura e fétida. Isso sem contar o descuido e o descaso, tão nocivos quanto o esgoto.

O modelo de preservação que vigora em Ubá é o modelo imediatista e neoliberal que diz assim: “preservar essa área pra que? Vamos construir um novo bairro que ai vai ter casa pra todo mundo”. Mas não precisa ser em área de nascente, de mata, de encosta, área de risco, sem qualquer infra-estrutura.
O modelo atual diz também: “não interessa se tal fábrica polui. O importante são os empregos que ela gera.” É uma prática suicida porque tenta sobreviver em cima das feridas que cria. O modelo faz ameaças usando as fraquezas da sociedade. O mesmo modelo que hoje polui, amanhã estará vendendo filtros contra poluição. A mesma empresa que vende o agrotóxico, vende o remédio para o câncer que o agrotóxico causa. E as autoridades esquecem de uma coisinha básica: saneamento, reciclagem de lixo, reflorestamento também geram empregos, renda e qualidade de vida.

Se quisermos ser uma sociedade justa, igualitária, digna para todos, não podemos aceitar os argumentos e muito menos utilizar os métodos vigentes. Para limpar a nossa cidade demanda tempo, mas tem que haver um começo, não só pela de sobrevivência do meio ambiente, mas também pela sobrevivência dos nossos sonhos.

Um comentário:

  1. "Imagine uma média de 10 descargas/dia por válvula. Seriam três milhões de litros de água injetados diretamente no rio. Esse volume é que mantém o rio seguindo seu leito, do contrário, ele se transformaria numa poça escura e fétida."

    *Pois é, rapaz... não fossem as descargas, o Rio Ubá seria uma grande merda.

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