sexta-feira, 22 de julho de 2011

Certas canções


Tenho várias canções em minha trilha sonora. Uma especial: “Equatorial”, dos Borges e do Beto. Quando escutava voltava no tempo. Tempo de mim. Tempo em que vivia no Rio, de janeiro a janeiro pegando onda, como se isso fosse a coisa mais importante a fazer. 

“Equatorial” fazia isso comigo. Sempre acontecia. Mas sempre não é todo dia. Agora não acontece mais. “Equatorial” será sempre a canção tema da saudade de meu pai. Nem sei bem por que.Talvez seja pela lembrança de quando vivia com ele. Talvez não. Só sei que senti uma vontade maluca de escutar “Equatorial” hoje. 


Uma vontade que chegou como se fossem as ondas do Leme ou das lembranças necessárias. 

Meu pai era muito. Era muitos. Era todos. Provedor, brigador, defensor e brincalhão. Fez do Rio sua cidade, de Botafogo seu domínio e do América seu clube do coração. Fez de mim o que sou. 

Quando nasci meu pai já o era de três meninas do Brasil. Durante minha adolescência era a autoridade sem porrada, sem grito, na palavra, no exemplo. Viveu uma vida sem muitos problemas. Nunca o vi preocupado, desgastado, desapontado. Era divertido. O som de sua risada era sinal de liberdade, de cumplicidade, de paciência, de relação. Isso me fez pensar que fiz o que quis de minha vida. Besteira. Tornei-me o que ele forjou. 

Sou sua estante de livros, sua roda de amigos, sua caminhada na praia, sua cerveja gelada, seu vinho tinto seco. Sou sua mesa de trabalho arrumada, suas canções que falam de Brasil e de mundo. Sou sua paixão por Van Gogh, Nietzsche e Luis Gonzaga, sou sua tuba na Filarmônica e seu discurso em latim. Mas apenas um pedaço pequeno disso tudo. 

Ele me ensinou que ainda falta muito para tornar-me a pessoa que quero ser. Tenho que ter paciência.

Minha estúpida cabeça de poeta é mesmo assim, quando soam os sinos, voam os pombos dentro de mim. 

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