quinta-feira, 7 de julho de 2011

Como Ubá deu no que deu...


    Assim como outras cidades, Ubá conserva o hábito de atribuir a uns poucos a construção da sua história. Esses poucos são cultuados e perpetuados nos logradouros e nos livros como verdadeiros autores dos acontecimentos mais importantes destas bandas do Xopotó. Essa visão estreita esquece as transformações naturais de uma sociedade e a participação da massa anônima que não aparece nas placas de rua nas esquinas da cidade. Mas para percebermos isso temos que tentar uma viagem que ajudará a entender melhor as paisagens que observamos na terra da manga e do Aymorés.
       
    Se prestarmos atenção nas pessoas - e nas histórias das pessoas - vamos perceber que a organização do espaço é resultado de uma série de fatores -  históricos, sociais, econômicos, culturais e até naturais. Para entendermos o que aconteceu à nossa volta, é necessário o conhecimento e a análise de fatos e ações que aconteceram no passado e sobre os quais foram se somando e sucedendo novos fatos e novas ações. Anônimas ações em sua maioria. Preste atenção: quando os primeiros exploradores aqui se aventuraram, defrontaram-se duas visões de mundo completamente opostas: a selvageria e a civilização.    
   
  Aos olhos dos destemidos novos bandeirantes da Mata mineira, os pobres puris eram “vadios”, não produziam nada de valor comercial. Na visão dos indígenas, os esquisitos e fedorentos aventureiros possuíam objetos de valor, principalmente ferramentas.   
    
   Ao descobrir matas cheias de oportunidades, os invasores - alguns portugueses e outros nem tanto - perceberam que necessitavam de mão-de-obra para explorar. Os indígenas, por sua vez, enviavam moças para casar com os brancos - que em troca lhes forneciam os objetos desejados. Casando com as índias, os brancos passaram a ter cunhados e parentes nas aldeias. Assim conseguiram pôr milhares de índios a seu serviço. Em todo o Brasil foram gerados mestiços, os mamelucos, que aprenderam com as mães índias uma sabedoria acumulada durante dez mil anos. Desse encontro resultaram dois fatores fundamentais para sermos esse povo bacana: a mestiçagem do corpo e da cultura.
        
  Ubá viveu toda essa grande contradição: de um lado, a capacidade de integrar raças e culturas; de outro, a desigualdade social e a discriminação racial. Só que isso não aparece nos livros nem nas comemorações dos 154 anos. 

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