sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Uma história militar


O tenente da rua do bairro Peluso, o Pedro Batalha, era dono de um rancho próximo à rua de trás, atual Santa Cruz, na beira de um córrego sem nome que cortava a cidade vindo dos lados do Mangueiras. De sua propriedade brotava a água que abastecia o largo da igreja e a rua da União, ex Caxangá e atual coronel Júlio Soares. Este sistema foi inaugurado em 1886 por um tal Luiz Gonçalves Fontes, que nem rua tem.
        Mas esse nome -  Batalha  - vem de longe.
      Após a renúncia de Pedro I - em 1831, uma onda de loucura política e econômica desestabilizou o país. Assim que o regente Feijó tomou posse, várias províncias revoltaram-se. A história de todas elas foi parecida: grupos de liberais com ideais republicanos conseguia tomar o poder por algum período. Os conservadores reagiam com tropas legalistas e retomavam o controle. Tudo em dois, três meses.  A única que se prolongou por mais tempo – 10 anos, foi a Farroupilha, no Rio Grande do Sul.
        Nas Gerais, a Revolução Liberal de 1842 começou em Barbacena, dia 10 de junho, e terminou em 20 de agosto, em Sabará. Era um movimento político. De Barbacena partiram os primeiros impulsos revolucionários. De cara cortaram as comunicações com o Rio de Janeiro colocando abaixo uma ponte sobre o rio Paraibuna. Queluz  - atual Conselheiro Lafaiete, que era a porta de entrada à capital mineira, Ouro Preto, foi tomada a 13 de junho. Diversos municípios reconheceram o tenente-coronel José Pinto, o famoso barão de Cocais, como presidente interino da província.
        A situação se agravou quando alguns militares aderiram aos rebeldes. De Queluz, José Pinto passou a São João del Rei, mas cometeu o erro de não avançar sobre a capital mineira. Politicamente, receberam a adesão do ex-deputado Teófilo Ottoni, que partindo do Rio de Janeiro, chegou a Minas sob disfarce e com documentos falsificados. Sua chegada ajudou a espalhar o boato de que os farrapos, comandados por David Canabarro, apareceriam a qualquer momento para engrossar as fileiras dos revolucionários.
        A pendenga pegou pra valer em 6 de agosto, quando os insurretos quase tomaram Ouro Preto. Os planos foram mudados e os revolucionários seguiram para Sabará. Lá enfrentam o barão de Caxias, que depois viraria duque e nome de cidade. Caxias, que tinha derrotado Bento Gonçalves e seus farrapos, levou a melhor e os líderes foram presos.
Na região de Ubá o conflito chegou dia 25 de junho. Os revolucionários, liderados pelo coronel Nezinho Pereira, atacaram e foram atacados por uma coluna legalista chefiada pelo tenente coronel Francisco Ataíde, que viria a ser o primeiro presidente da Câmara de Ubá, que ainda era vila em 1853. Morreu gente dos dois lados. Os revolucionários bateram em retirada, rumo a Santo Antônio do Paraibuna, que desde 1856 é conhecida como Juiz de Fora. Juiz de Fora, desde sempre, tinha vocação para paradas estratégicas.
O sobrenome Batalha surgiu quando o pai de Pedro, Manoel José de Souza, veterano legalista da luta de 1842, incorporou o apelido ao nome.  O Manoel da batalha virou Mané Batalha. Em maio de 1920, o filho dele, Pedro, é obrigado pelo prefeito Júlio Soares a retirar seu rancho de cavalos do perímetro urbano. Em troca obtém isenção de impostos municipais e vira tenete. Neste ano houve censo geral no Brasil. Éramos pouco mais de 30 milhões. Basicamente um país de mendigos, industriais, fazendeiros, desempregados, comerciantes e operários, todos trabalhando para fazer deste o país do futuro. Era presidente Epitácio Pessoa, o primeiro que recebe um empréstimo americano: 50 milhões de dólares. Era o começo do fim, digo, fmi.