quinta-feira, 24 de março de 2011

Valdo e Tó


Aquela discussão começou quando Tó acusou Valdo de trapacear num jogo de búlica. Ele não se conformava em perder todas as bolinhas para Valdo.  Só no bafo de figurinha que Tó ia a forra.  Arrasava Valdo e partia pra briga que só terminava com a chegada das mães.
No colégio, brigas. Desde sempre. As mesmas namoradas em épocas diferentes; salas distintas disputando torneios; monitores de turmas diferentes...  em tudo competiam e revezavam vitórias. Na faculdade pertenciam a partidos e chapas distintas. Tó ganhou o DA, mas Valdo o DCE.  Na  eleição  seguinte a coisa inverteu.
Valdo formou primeiro, mas a festa do Tó foi melhor.
Estagiaram em empresas diferentes e foram contratados em definitivo no mesmo mês. Tó ganhava mais, mas Valdo trabalhava menos. As duas empresas disputavam as mesmas concorrências e lançavam obras fantásticas. Tó foi promovido a gerente de projetos enquanto Valdo ganhou uma bolsa na Europa. Comemoraram no mesmo bar e se estranharam novamente quando escolheram a mesma mesa.
Eram casados com duas irmãs que se frequentavam. Tinhas filhos que eram amigos, brincavam, estudavam  e viajavam juntos.  Quando mudou para  Londres com a família, o filho de Tó foi junto, para estudar.  Valdo ficou sabendo que Tó tinha sido novamente promovido. Agora era diretor da empresa. Valdo voltou e buscou uma promoção.
No sindicato, partidos diferentes, chapas  diferentes. Valdo era presidente.  Tó,  dissidente, criou um sindicato alternativo só para brigar. Valdo protestou, brigou e decidiu ir até o fim. Candidatou-se a deputado num partido. Tó em outro. Foram eleitos. Valdo teve 43 votos a mais que Tó. Brigaram.
No Congresso, nem se fala. Valdo acusava Tó de vendas de ‘habite-se’ e Tó dizia a qualquer um que tinha provas que Valdo estaria envolvido em escândalos financeiros. Valdo afirmava que possuía um dossiê completo das armações de Tó, que se defendia dizendo que o dele era maior ainda. Brigas.
Enriqueceram.
Eram padrinhos de diferentes escolas de samba e clubes de futebol que alternavam campeonatos, vitórias, derrotas e desentendimentos. Muitos até.
 Um amigo comum - e eles tinhas vários - resolveu intervir e acabar com  o problema. Convidou os dois para uma conversa franca, definitiva, onde, talvez, conseguiriam acabar com as diferenças que acumularam desde a infância. Sem brigas. Pegaram caminhos diferentes para chegarem em horários diferentes.
Tó chegou primeiro.
Valdo não chegou.
Valdo nunca mais chegaria a lugar algum.
Pela primeira vez Tó se conformou com a derrota.


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