sexta-feira, 11 de março de 2011

Quem é essa mulher?


Faz tempo.  Mais  de 150 anos.  
Era um distante 8 de março de 1857, uma quarta-feira comum, como todas as outras feiras do mundo. E foi nos Estados Unidos, antes mesmo de sua Guerra Civil que matou quase 1 milhão e começaria quatro anos depois.
Mas, naquela quarta-feira, operárias de uma fábrica de tecidos de Nova Iorque fizeram uma greve. Não queriam vale-transporte, nem aviso prévio. Queriam oxigênio, água e tratamento humano. A repressão foi brutal. Trancadas no interior da fábrica, cerca de 130 morreram carbonizadas depois de um criminoso incêndio. A polícia agiu rápido. Abriu um rigoroso inquérito para apurar as responsabilidades. Adivinha quem foi culpado? Elas.

Injustiças desta natureza acontecem desde que o mundo é mundo. Lá como cá, mulheres são reprimidas, injustiçadas, castigadas. É só lembrarmos de Zuzu Angel , estilista brasileira que fez sucesso com seu estilo em todo o mundo. Nos anos 70, seu filho Stuart, ativista contra o regime militar, foi preso e morto nas dependências do DOI-CODI. A partir daí, Zuzu travou uma guerra contra tudo e todos pela recuperação do corpo de seu filho. Essa luta só terminou com o segundo assassinato - mais um -  em 1976,  por agentes da ditadura. O assassinato foi forjado para parecer um acidente de carro no  túnel que hoje leva seu nome, na entrada da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O corpo de Stuart nunca foi encontrado. Em homenagem à estilista, Chico Buarque compôs a bela 'Angélica', em 1977, um conforto, talvez inútil, para aliviar a dor das mães que perderam filhos, no passado e no presente.

A Zuzu Angel, mãe de Stuart, morto pela repressão; a Rosa Cristina,  mãe do menino João Hélio, de 6 anos, arrastado pelas ruas do Rio; a Edna Ezequiel,  mãe da menina Alana, destino de uma bala de fuzil perdida em um confronto entre bandidos e policiais; a Cissa Guimarães, mãe do belo Rafa, morto estupidamente num mais estúpido ainda atropelamento na Gávea. Um beijo e meu pedido de desculpas. Foi o que me deu vontade - necessidade - de fazer vendo imagens e reportagens sobre o – ou seria a - tsunami.

Sem intenção alguma de ser piegas, quero somente externar um sentimento de pai.  Não há explicação para sentimentalidades, mesmo quando um colega repórter, estúpido, ao lado de uma mãe sem notícias de seu filho na tragédia japonesa faz aquela pergunta tão batida em matérias desta natureza: Qual era o maior sonho de seu filho? A resposta não poderia ser outra, não poderia ser melhor: “...enquanto ele não der notícias, não existe sonho, não existe nada ...”


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