quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Que dia é dia do repórter?



            Comecei a prestar atenção nas coisas do mundo em 1981. Havia acabado de entrar na universidade. Tinha 17 anos e fiquei deslumbrado e desbundado com aquele mundo infinito e mágico que é uma universidade federal. Um mundo duro, mas com generosas doses de carinho; difícil, mas com grandes placas de sinalizações; agnóstico, mas totalmente temente a Deus.
            Lembro que no primeiro dia de aula deixei uma espécie de marca registrada,que me acompanharia por quase toda minha vida acadêmica: insurgi contra a humilhação do trote:,  furar as letras “o” de uma página de jornal com um alfinete. O resultado de minha subversão foi outra página para furar. Fiquei conhecido como “o calouro do jornal”.  Não furo mais letras nem me desgastou em lutas utópicas que fizeram minha cabeça, mas ainda vasculho jornais com a mesma raiva que senti dos veteranos da UFF, com a mesma sede dos marujos de Cabral, com a mesma gana dos trabalhadores rurais sem terra que esperam pela terra prometida.

            A leitura de jornais está presente em minha vida desde sempre. Sempre vi meu pai lendo. Do Globo ao JB; de Érico a Luis Fernando, de pai para filho. Essa facilidade encravou em seus filhos – somos quatro – o hábito de ler, desmembrar, recortar, comentar e principalmente corrigir; termo suspeito e sujeito as ideologias que, mesmo sem querer, vão aos poucos direcionando o ideal valor do certo e o preço que pode ser pago pelo errado. Toda correção é passível de interpretação. Somos árbitros e faço questão de exercer esse direito sagrado, herança divina registrada no cartório do Céu.

Sei que há distância entre a História e a imprensa no Brasil. Disso todos sabem. Mas penso que existe em qualquer idioma, sob qualquer bandeira. Quando entrei para o movimento estudantil desenvolvi essa mania de ser romântico e utópico, de achar que os sonhos não envelhecem. E isso vicia. E sem poder parar de alimentar meu vício, leio jornais diariamente. É quase uma compulsão, mesmo achando que a única notícia realmente confiável dos jornais é a data, mesmo ela, que é uma mentira: o hoje foi escrito ontem, para parecer amanhã. Ainda que se atacasse o maior vilão da história do país – país em que os vilões podem ser heróis de acordo com o jornal que escreve sua história – não seria aceitável que, a pretexto de denunciar crimes, a imprensa cometesse outros.

            Jornalismo é 50% verdade e 50% fantasia. Temos a difícil tarefa de manter a balança equilibrada. Não sei o tamanho do mal que pensar assim me causou. Nem sei se tem reversão. Só sei que faria tudo de novo. Pela qualidade da minha geração.

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