Histórias para ninar gente grande
Outra noite meu filho mais novo pediu para que contasse histórias de quando eu era como ele, pequeno. Comecei vasculhando as lembranças, ordenando memórias e apertando o peito de saudades. Lembrei de amigos distantes: Butterfly, Barata, Penumbra, Niender, James, Besteira, Pinduca, Morcego, Bentivi, Socila, Zepanca e percebi como eram tolos e engraçados os apelidos de infância.
O Rio de Janeiro dos anos 70 foi o cenário da história que comecei a contar a meu filho. Contei que estudava pela manhã no bairro que morava, Botafogo, enquanto meus companheiros, em sua maioria, iam à escola na parte da tarde. Brincava sozinho boa parte do dia. Descia para a rua e observava o tempo passar lento, no trânsito intenso da General Severiano, caminho para a Urca e para o Centro. Lembrei do vento que cortava meu rosto e que empurrava as nuvens apressadas. E a caixa de recordações permanecia escancarada, quase em ebulição. Falei dos dos times de botão a bicicleta verde que partiu ao meio, assunto que despertou enorme interesse. Acrescentei o autorama, os primeiros beijos, o pique-esconde e o surf mambembe.
Dos amigos contei pouco. Fiquei travado. Saudades dos distantes, saudade dos que encantaram, saudades das risadas descompromissadas e verdadeiras, das brigas e poesias, das canções e festivais. Das namoradas eternas, dos maracanãs lotados, do um e meio do Leme, das ondas, dos mares, dos lares, dos bares, do Sagres. Saudade do que eu fui e ainda sou. E por isso mesmo, doeu tanto ver o brilho da estrela que eu marquei no céu do Rio de Janeiro numa noite dessas de fevereiro de um 70 qualquer.
A história que contava sozinho, em silêncio para não acordar meu filho parecia não ter fim, parecia não querer ter fim. Queria poder reunir os rostos, os gestos e os apelidos em torno de uma mesa farta de som, luz e sonhos, que graças a Deus, não envelheceram.
Boa noite e obrigado, meu filho.
Como vocë é meigo, Raul... Como gosto dessas coisas
ResponderExcluirtáo singelas
"...Queria poder reunir os rostos, os gestos e os apelidos em torno de uma mesa farta de som, luz e sonhos, que graças a Deus, não envelheceram.
Boa noite e obrigado, meu filho. "
coisas que adormecem meus anseios menores
e enche o peito de um júbilo
quase infantil.
o ritmo ditou a carga emotiva e deu ao discurso ainda mais intensidade. bacana.
ResponderExcluirAmor de minha vida, muito lindo isso aq, igualzinho vc.
ResponderExcluirBjo gigante,
Carlinha meu amor