terça-feira, 28 de junho de 2011

O Capitão-Mór é inocente. Fui eu quem inventou Ubá

 ‘’Tenho lido muitas coisas, conversado com pessoas...’’


Sei que existem muitas histórias sobre como Ubá deu no que deu. Vários sites, oficiais ou não trazem uma versão. E é tanta fantasia que fui até capaz de criar a minha. Sei que pode ser torta, pode ser incompleta, mas é minha. Se não concordar, escreva a sua. Lerei encantado.
Tudo começou lá atrás, quando os colonizadores decidiram pela formação de um novo caminho, o “Caminho Novo”. Sua construção começou no pelo final do século 17 pelo filho do Fernão Dias Pais -  um dos mais renomados matadores de índios da colônia - , Garcia Pais. A viagem pelo Caminho Novo demorava - em média - 45 dias: começava no centro da cidade do Rio de Janeiro próximo a atual Praça XV de Novembro, seguia até o rio Iguaçu, depois o rio Pilar. A partir de Pilar, atual cidade de Duque de Caxias, iniciava-se a subida da muralha, ou melhor, da serra, seguindo para Paty do Alferes em direção ao rio Paraíba do Sul. Daí, Juiz de Fora, até atingir a região de Vila Rica - atual Ouro Preto. A partir desse ponto retomava o percurso do Caminho Velho até ao Arraial do Tejuco, a bela  Diamantina.
Ao longo do percurso entre o porto do Rio e os minérios, novos caminhos e novas roças surgiram e essas foram fundamentais para o processo de povoamento da Mata Mineira. Facilitada pelo manso e navegável Rio Pomba, a penetração na área central da Mata Mineira alterou o espaço geográfico para sempre.  A inserção do homem em uma paisagem nova, desafiadora, complicada até, não se constitui apenas em uma mudança de lugar, mas em uma mudança de padrão de comportamento. O conceito de região caminha na mesma direção do conceito dessa transformação. Um território, uma vila, um curato, uma cidade, um conceito de “minha terra” é constituído por lugares diversos, com variadas relações econômicas, sociais, naturais e políticas. Esse aspecto retira do conceito de região uma idéia de naturalidade, um sentido que aconteceria de qualquer jeito, com outras pessoas, com outras cabeças, com outras sentenças. Não aconteceriam. Não mesmo. Nunca.
            Os homens e mulheres que desbravaram essas “terras abençoadas por São Januário”, provocaram uma alteração significativa. Claro que a região já era habitada por um povo nativo, mas a ação desses 'loucos santos' deu nisso que vemos hoje pelas ruas da história. A Mata Mineira, apesar de ainda não possuir esta designação, deve ser considerada mais do que uma mera área de interligação entre as Gerais e o Rio de Janeiro no século XVIII. Deve ser considerada uma região de efervescência política, cultural e social, diferenciada de todas as outras. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente.
O Caminho Novo já era alvo de preocupações por parte da Coroa. E a principal preocupação era a ocupação da região. Muitos consideram como data inicial do movimento de ocupação da Mata Mineira o ano de 1750, quando uma expedição liderada por um mameluco chamado Inácio Ribeiro saiu de Ouro Preto e alcançou o rio Pomba. O contato com os índios da área não foi pacífico. Longe disso. Mas as balas sobrepujaram as flechas. Inácio estabeleceu-se em uma roça na Serra das Emerências, bem próximo da atual cidade que herdou o nome da serra, acrescido de uma corruptela holística: Mercês.  Atrás do sucesso do mameluco Inácio, mais algumas expedições tentaram a sorte. A maioria fracassou, mas um capitão chamado Chico Pires conseguiu “apaziguar” à bala alguns índios coroados, mais armados e amados do que os mansos puris, que habitavam a região do rio Pomba. Foi talvez o primeiro relacionamento amistoso, ou melhor, menos violento entre brancos e índios.
O sucesso do Chico possibilitou que em 1764 fosse criada pelo governador da capitania das Gerais, Luís Lobo, a Freguesia do Mártir São Manoel do Rio da Pomba e Peixe dos Índios Coroados e Coropós, nome grande para pouco ouro. Somente com a chegada de um enviado especial da Coroa, o padre fôrro Manoel de Jesus à região, em 1767, foram construídas as primeiras casas que deram origem ao primeiro vilarejo na área onde hoje se localiza a cidade de Rio Pomba. Essa ação do padre confirma a ação ‘evangelizadora’ na capitania de Minas Gerais na segunda metade do século 18, tal como ocorreu nas capitanias do Rio de Janeiro e de São Paulo ao longo dos séculos 16 e 17. Isso comprova que a ação não foi natural, mas planejada.
Muito se lê que a ação missionária do padre Jesus Maria era uma ação isolada, desprovida de características políticas, sem a presença de negros escravizados. Entretanto, analisando um livro de registro de batismos percebe-se que entre de novembro de 1767 e janeiro de 1772, foram realizados mais de 100 batismos em Rio Pomba, sendo que 45 de indígenas e 22 de escravos que seguiam junto com o padre para a colonização da região. O registro de escravos e brancos sendo batizados na Freguesia de Rio Pomba é indicativo da intenção colonizadora da região, indo muito além da característica exclusiva de missão ou aldeamento como foi normalmente definido por muitos historiadores e os ‘controlC + controlV’ da internet. Mas isso não diminui em nada a ação do padre Maria. Pelo contrário. Não deve ter sido fácil convencer a malta de “tal despropósito”.
Esse movimento ao longo do vale do Rio Pomba, principalmente a chegada do homem branco nessas bandas é indicativo da queda da atividade mineradora. Mas também mostra que outras atividades já faziam transformações na região. Do Pomba ao Xopotó, um pulo. Do Xopotó até seu afluente menos famoso, o ribeirão Ubá, pulo menor ainda. E foi depois desses pequenos pulos, fugas, aventuras e perigos que inventaram Ubá.
Quer saber do capitão? Ele veio depois... bem depois...
O resto é perfumaria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário