quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Remoto controle


Somos uma cidade múltipla, diversa e com valores conflitantes. É como se existissem várias cidades, com valores, códigos culturais sem interação, o que nos torna somente uma cidade, nunca uma sociedade. Cultura também é percebida na falta dela. Quando falamos em cultura, pensamos como num espaço para realização de cidadania, mais ainda, como ferramenta de superação, seja pelo reforço da autoestima ou pelo potencial de inclusão socioeconômica que as manifestações artísticas têm.
Ao longo desses mais de 150 anos o poder público ubaense restringiu sua ação no campo cultural quase que exclusivamente como promotor de eventos e distribuidor de incentivos fiscais. Isso parece que mudou. Nesse novo contexto a cultura se impõe como um dever do poder público, não seguindo a cartilha do distribuidor de miséria cultural, ou próximo do elitismo que acredita que cultura é uma exclusividade das classes mais favorecidas. A nova ordem é transformar a cultura em vitrine de uma gestão que vai acompanhar a mais eloquente manifestação do povo brasileiro pela necessidade urgente de mudança. Não uma mudança superficial, mas de mudança de prioridades. É certo que nesses últimos anos o Brasil ainda não é “o país de todos”. Ainda não completamos a tarefa da reconstrução. E os motivos são conhecidos, entre eles a aspereza política culturalmente institucionalizada.
Mas cultura é talvez o mais amplo termo que se usa para qualificar uma atividade ou expressão. Mas o que realmente pode ser considerado cultura? Música, teatro, artesanato, dança, folclore, cinema, festas populares, eventos religiosos, tudo isso é cultura? São muitos questionamentos com várias possibilidades de respostas. Evasivas, completas, sonhadoras, indignadas, apaixonadas. Todos têm uma definição e até mesmo uma predileção. Mas para o cidadão comum, o quê é cultura? Para alguns, cultura é sinônimo de festa. As tradições de um povo, a música, as danças. Uma caminhada pelas ruas é suficiente para ter uma noção do que nossa gente pensa sobre cultura. Quase todas as pessoas têm a mesma opinião. O que muda é a ótica. Quanto mais abastada a classe, mais abstrata é a definição e o sentimento do que vem a ser cultura. Entre as pessoas de baixa renda, cultura está ligada a ensino, tempo de estudo, conhecimento: “é coisa de doutor”; ou: “custa caro”. A cultura popular perdeu espaço na sociedade moderna, mas resiste. O carnaval de rua, os Congados, as Folias de Reis e as Festas Juninas ainda convivem com a “videogueimização” da cultura contemporânea, num antagonismo vibrante que emociona.
A TV e a Internet instituíram um conceito estereotipado de cultura. A TV hoje é talvez o único momento de lazer de boa parte da população brasileira tem. Uma população que assiste hipnotizada para esquecer de um cotidiano não muito brilhante como na TV. Por isso mesmo que ela, a TV, deveria tentar melhorar, tentar formar e informar, educar, divertir, usando essa enorme influência. Deveria contar a nossa história ao invés de valorizar escroques, criar ídolos absurdos, fabricar modelos de comportamento fora da realidade e da capacidade de aceitação.
            O mesmo acontece com a Internet. A acessibilidade que a internet - a utópica biblioteca universal - proporciona, permitindo ultrapassar fronteiras culturais funciona como se de repente todos estivéssemos sujeitos a interagir com outras culturas que não a nossa, com um simples deslizar de um mouse. Não é bem assim. A permissividade, às vezes, emburrece. Pode ser, mas é bom encerrar com a melhor definição de cultura que encontramos nesse contato com a população: “cultura é tudo que se toca e todo que te toca“. Perfeito. Cultura nos toca e por nós é tocada, seja em uma canção ou em uma dança, seja na História ou no idioma, seja num gesto ou em um poema.

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