terça-feira, 9 de novembro de 2010

De volta pro aconchego


Raul Carneiro Filho dois pontos


Há momentos em que a vida real abre suas  portas para um cenário tão fiel, um texto tão fantástico e para um elenco tão dinâmico,  que o realismo e o sentimento das perdas diárias ficam lá no fundo, no escuro, enquanto nós, na primeira fila, esticamos o braço e tocamos a pele dos atores. Estou vivendo um desses momentos , desde quando resgatei meu antigo blog.
Mas vamos lá: Nasci em julho de 63, e isso foi – disparado -  a melhor coisa que já me aconteceu. Nasci e cresci no Rio de Janeiro, Botafogo, rua General Severiano, agarrado ao campo do clube. No meu prédio moravam vários jogadores, inclusive o Jairzinho, o Furacão da Copa de 70. Era um grande edifício, era não, é, com uma grande área de lazer, destas que não se vê mais no Rio, a não ser em grandes condomínios da Barra ou Recreio. Jogava bola, bicicleta, papagaio, tinha espaço e companheiros, alguns até hoje.
Entrei na universidade em 1982, Geografia na UFF. Aquele mundão de gente, de cursos, de descobertas. Lá descobri a leitura e vivi todo o momento de redemocratização do país. Durante meu primeiro período da universidade houve eleições para o DCE e, animado pelos ares democráticos, entrei em uma chapa. Pela primeira vez uma chapa quase exclusivamente composta por calouros disputava e ganhava uma eleição na UFF. Eu ainda não respirava política estudantil, até que a ‘coisa’ engrenou. Passei a ler biografias, filósofos, ensaios, Darci Ribeiro, Milton Paiva, Veríssimo pai e filho. Passei a ouvir Elomar, Chico, Xangai. Passei a me informar para ter o que falar.
Tempos depois fiz Administração na Santa Úrsula. Época boa. Rua Farani, em Botafogo - a maior concentração de bares e universitárias por metro quadrado do Rio de Janeiro. De lá, trabalhei em Alagoas numa terceirizada da Petrobrás. Aprendi sobre o Brasil por lá. Essa coisa de ficar de frente para o mar e de costas para o Brasil nos impede de ver nosso país. Miséria, fome, descaso. Vivi situações que irão me acompanhar para o resto da vida. Tenho um baú lotado de recordações desse Brasil. Vasculho de vez em quando. É a Geografia no estado puro, e ela está em tudo que fazemos. Somos seres geográficos. Temos longitudes, latitudes e atitudes.
Voltei para o Rio de Janeiro e lá fiquei. Casado, mudei para Ubá, Minas Gerais, terra de meus pais, avós e quem mais vier. Recentemente segui o caminho da Comunicação Social. Em todos as sentidos, até o geográfico: a faculdade de jornalismo veio bater na minha porta. . Isso foi a segunda melhor coisa que já me aconteceu. Graduado, busquei uma especialização, visando o mercado acadêmico.Virei professor universitário. Leciono também para o ensino fundamental e médio. Partilho experiências com crianças e jovens de 10 a 70 anos, aproximadamente 1700 alunos. Pontos para a máxima que afirma que a vida começa aos 40!
Fui presidente por seis belos anos do Partido dos Trabalhadores de Ubá e acredito que jornalismo e política são ‘farinha do mesmo saco’, não se separam, se completam. São duas forças que mudam o mundo, criam e vencem guerras, salvam e destroem vidas, alimentam e acabam com sonhos. Em meu utópico país jornalismo e política são as mais eficazes armas para combater desigualdades, para promover justiça social, para distribuir renda e matar a fome e a sede dos sertões. Sem um jornalismo ético, comprometido com a retidão da informação não há política que promova democracia, e sem democracia não há nada, não há nada, não há nada.

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